quarta-feira, maio 31, 2006

o beijo

os teus lábios parados eram a noite, o abismo
e o silêncio das ondas paradas de encontro às
rochas. o teu rosto dentro das minhas mãos.
os meus dedos sobre os teus lábios e a ternura,
como o horizonte, debaixo dos meus dedos.
os meus lábios a aproximarem-se dos teus lábios.
os teus olhos entreabertos, os teus olhos e os
teus lábios a aproximarem-se dos meus lábios
a aproximarem-se dos teus lábios a aproximarem-se
dos meus lábios, teus lábios.

José Luís Peixoto em Tantas Mãos a Mesma Primavera (o livro que recebi de presente na Feira do Livro)

terça-feira, maio 30, 2006

Será?

O amor é como um golpe infligido, amargo, doce, quente, gelado, atravessa o corpo de um lado ao outro como uma espada ferrugenta. Não é mortal, mas por mais que o tempo cure, as cicatrizes não desaparecem, são as marcas de um sentir demasiado profundo. O amargo, doce, quente, gelado. Todas as primaveras volta aquela sensação estranha na zona da carne rasgada, uma dor fina que grita, não te esqueças de mim.

sexta-feira, maio 26, 2006

Ultimo dia

E comecou a chover com a musica a tocar.
Todos abrigados debaixo dos toldos a dancar. So tive tempo para correr para o cyber cafe...
Ate ja...

quinta-feira, maio 11, 2006

Em viagem

Levo uma mala meia vazia, leve para a alma e pesada para o corpo.

Antes de sair de casa escolhi dois livros para ler e três canetas para escrever.

Na primeira página do meu diário a frase:

A morte aumenta a alma.
Projecto: aumentar a alma sem MORRER.

terça-feira, maio 09, 2006

Vou



Até ao outro lado do mundo. Já volto...

segunda-feira, maio 08, 2006

Desafio

Faz assim.
Vai comer uma sobremesa ao café do Príncipe Real, numa mesa junto à janela para o verde entrar por ti adentro. Ouve. Lá fora. São os pássaros a cantar com a luz do fim do dia.
Sais.
Esquece o dia de trabalho que ficou para trás e desce em direcção ao bairro alto.
Vai pela rua principal, aquela que segue serpenteada pelos carris de ferro do eléctrico.
Quando te cruzares com a rua com nome de flor, não hesites, é por aí que deves seguir.
Dizes adeus aos carris e logo no início da rua com nome de flor encontras uma outra rua à direita. Olhas. Lembras-te de uma livraria devagar, apetece-te comprar um livro, um qualquer desde que não seja pesado, estás farto de pesos, por isso é que escolheste a rua com nome de flor.
Continuas em frente, sem virar, mais uns metros.
Encontras um cruzamento.
Aí sim, viras à direita.
Neste primeiro mini-quarteirão, no lado oposto ao do coração vais encontrar uma porta com uma indicação curiosa.
Bate à porta. Entra se estiver aberta.
Senão volta num dia mais tarde...
Vá, vai hoje mesmo, não penses mais nisso, sabes lá se será igual depois de amanhã.

Afinal existem muitos sonhos soltos pelo mundo.Onde está o teu?

quinta-feira, maio 04, 2006

A máquina de Joseph Walser



“Vibra um certo nervosismo excitado entre os homens, procura-se o inimigo com uma força inexplicável, nunca se procurou o amor assim, em momento nenhum, nunca ninguém esteve assim tão apaixonado pelo amor como pelo ódio”

Mais um caderno do Gonçalo M. Tavares. Estou a tornar-me repetitiva. Sou de entusiasmos, tudo seguido, ou nem uma linha. Gostei de encontrar uma personagem do Jerusalém a ajudar o Joseph Walser a recolher mais um objecto para a sua colecção. Joseph Walser, o homem que tem os sapatos irresponsáveis.

terça-feira, maio 02, 2006

Inspiração - Sr. Brecht


Sr. Brecht – Gonçalo M. Tavares

"Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar.
Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra.
E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar."
Bertolt Brecht