sexta-feira, abril 28, 2006

Dúvida

Será a dúvida melhor que a certeza? Com a certeza podemos ter um rumo, um objectivo. E quando uma certeza conduz a mais dúvidas? Não será a vida um novelo de dúvidas todas emaranhadas, com uma ponta que marca o início e outra que marca o fim? O nascimento e a morte. Não podemos quebrar o fio ao meio. Ou será que podemos?

Hoje tive uma certeza com uma dúvida... Fiquei ainda mais triste...

Surpresa

Andava à procura de um livro há duas semanas e três dias nas lojas, lojinhas, livrarias e quiosques. Encontrei-o hoje, por acaso, entre uma polaroid antiga tirada no bairro alto e um livro que dizia na capa “os sete mensageiros”. Foi quando procurava um postal colorido para levar à pessoa que esperava por mim na esquina do tempo.

terça-feira, abril 25, 2006

Lar doce Lar

Entrei, estava escuro, as paredes eram feitas de papel, papelão, cartão, madeira em contraplacado. Não importa, eram finas e conseguia sentir o vento que insistia em transpor a frágil barreira que me separava da rua. A chuva batia à porta num chicotear firme e constante.

No alto, topo, cimo, tecto, telhado, entre duas tábuas, folhas, camadas contraplacadas, espreitava um feixe de Luz, um fio de navalha cortante no meio da escuridão. Fiquei muito tempo naquela primeira sala, a estrutura balançava com as rajadas que teimavam em não acalmar e uma gota delicada caía a cada dois segundos, uma gota pingada de luz que mergulhava na escuridão, e se extinguia ao tocar no chão inundado de chuva, lágrimas, gotas luminosas suicidas, lamentos, mar, rio...

Passei para a segunda sala, foi rápido, tinha os pés molhados, sentia-me terrivelmente só, é perigoso ficar infinitamente a olhar para uma gota triste.

Na terceira sala esperava por mim uma mulher, abriu a porta e convidou-me a entrar.

Sentei-me numa cadeira. Ela sentou-se na outra. Ela deu-me uma carta. Ofereceu-me café e uma fatia de bolo. Li a carta. Ela disse-me que não gostava de bolo. Cortou duas fatias. Eu pensei que não deveria beber café. Mas bebi. A carta. Bonita, pensei, quero ficar mais tempo a ler, não posso, não devo, o que é que esta mulher quer? Olhou para mim com um sorriso, podia ficar calada. Não sabia se conseguia. Falei. Ela fumou um cigarro. Comemos o bolo.

Mais uma carta. “Tudo isto leva muito tempo” e ao mesmo tempo, tempo nenhum.
A carta. A segunda carta. É um guião, uma narração da acção, uma lembrança de que tudo aquilo não passava de peça de teatro. Não confio nas palavras. Continuei a olhar para a mulher à minha frente. Falo-lhe da pinga que se solta do alto, topo, cimo, tecto, telhado, entre duas tábuas, folhas, camadas contraplacadas. Falo-lhe da casa que parece de papel. Sinto-me terrivelmente só, mas não digo. Apetece-me chorar, mas reprimo a lágrima. Não quero sair, aquela cadeira aqueceu a minha solidão.

- Posso apagar a luz?
Ela levanta-se e ajoelha-se à minha frente.
- Posso tirar-te o sapato?
“Ela baixa-se e com a mão rodeia-lhe o tornozelo. Tira-lhe o sapato. Ela não está espantada. Cala-se. Sabendo no entanto que alguma coisa deveria dizer. Passam trinta segundos”
- Posso tirar-te a meia?
Estava ensopada com a chuva, lágrimas, gotas luminosas suicidas, lamentos, mar, rio...
O pé gelado. Ela poisa o meu pé em cima da coxa dela, quente e nua. Sinto calor, sabe bem, muito bem...
- Posso tirar-te o outro sapato?
“ Tira-lhe o outro sapato. Depois levanta os olhos para ela. Não tem medo.”
- Posso dar-te a mão?
“Ficam ambas sentadas muito tempo de mãos dadas entre a mesa e a cadeira.
Ambas têm consciência do ridículo da posição.
Mas estão sérias e não ousam dizer palavra ou talvez sim.
Na casa reina o silêncio.
A vida de cada uma projecta as suas sombras em tudo.
Elas não se escutam senão a elas próprias.
Estão de mãos dadas, silenciosas e atemorizadas.
Cada uma procura socorrer-se da outra.
Sabendo que se se largam estão perdidas.
E também se não se largam perdidas estão.
E nesse momento tudo parece tão simples.”


- Posso dar-te um beijo?
Digo que sim, sem pensar, um beijo. Ela levanta-se e com um sorriso cúmplice aproxima-se dos meus lábios, tocando-lhes num beijo silencioso.
- Posso dar-te um abraço?
Dá-me um abraço forte, terrivelmente forte, uma abraço de despedida, um abraço de força vencida.
- Posso abrir a luz?
Dá-me a terceira carta e diz – Adeus.

“Ela olha para as mãos e pensa. Existe um vento impetuosamente solto na noite da minha vida. E tu amiga desconhecida, nesse lugar, sentes o vento impetuoso solto na noite da tua vida?”

“Aqui, eu abro as portas, corro e vou em direcção ao mar.
E tu? Corres, de braços abertos em direcção a ti?”

“Havia uma casa, havia uma noite. Havia uma mão e outra mão. Havia um instante. Lembras-te?
Olha. Um minuto.
Não te esqueças.”


Saí com a carta amarrotada dentro do bolso das calças. O frio do chão perfurava-me a alma. A gota solta do alto, topo, cimo, tecto, telhado, entre duas tábuas, folhas, camadas contraplacadas num chicotear firme e constante fundia-se com o bater do meu coração.

Terraço Lux, foi até 22 de Abril.
Mónica Calle, dramaturgia, Nadir Bonaccorso, arquitectura.“Um objecto, um interior, um percurso, fragmentos, um espectador e Mónica Calle.”

sexta-feira, abril 21, 2006

Tapete Persa


Irão, Junho 2005

quinta-feira, abril 20, 2006

Green on Maroon - Rothko


Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid

Estar na presença de um quadro do Rothko, este quadro do Rothko, é como ter aqueles lábios cor de cereja quase madura perto de mim, aquele cheiro de pele cansada misturado com o perfume dos deuses a invadir-me o corpo, aqueles olhos de mel, doces ternuras que falam para além das palavras, a dizerem que aquele é o momento.

Atracção fatal.

quarta-feira, abril 19, 2006

Sou eu



Na versão South Park!

Também quero.

segunda-feira, abril 17, 2006

Adormecer da mente

- O desejo de apagar uma memória não quererá dizer que se ama o que está ligado a essa memória?
- Não necessariamente, pode ser um erro, ou algo que nos incomoda recordar.
- Mas se tu esqueceres um erro, o mais provável é voltares a fazer do mesmo.
- Não quero saber, quero esquecer e pronto.

quarta-feira, abril 12, 2006

Planta Carnívora?



Esta é a minha nova menina.
Parece uma grande bocarra com picos e dentes. Foi amor à primeira vista e como todos estes amores que aparecem assim, sem avisar, foi chocalhado por uma torrente de dor, uma picada maléfica e dolorosa. Claro que fui a culpada, quem mandou aproximar-me tanto? Doeu e não me esqueci. Eu nunca me esqueço dos picos e picadas!

terça-feira, abril 11, 2006

Fui



É verdade! Fui ver o Benfica vs Marítimo.
Foi a minha primeira experiência no estádio novo do benfica e a minha segunda exposição (quase radioactiva) a um jogo completo de futebol (nem nunca sequer vi nenhum jogo inteiro da selecção na televisão)!

Fiquei impressionada com os dizeres que me rodeavam, entre os repetidos f#### e os insultos gratuitos aos jogadores, ao senhor vestido de negro e aos senhores das bandeirinhas ouvi outras frases que tive dificuldade em descodificar:

Isto parece um jogo de matraquilhos (matraquilhos? Então quem é que estava a jogar?)
Parece que têm sebo nos sapatos (realmente a bola parecia que escorregava para o lado errado do campo)
Calçaram os sapatos ao contrário (Como?)
Estás a ver alguém aí? F####. Porquê que atiraste a bola? (pois... pois...)
Sai daí animal (acho que se referiam ao senhor vestido de preto)
Traz c#### (esta não percebi mesmo)...
Vá, marca lá um charuto. (a seguir foi golo)

Com tanta testosterona, questiono-me, porquê que não passam aquela hora e meia a dar uma bela queca? Não seria mais interessante e igualmente destressante?

quinta-feira, abril 06, 2006

Do Pior



Do melhor:

1. Encontrei o Paulo, Paulão, amigo grandão que levava as meninas a casa há 15 anos atrás. – Então o que é que é feito? Tens visto a Cláudia, a Rita e a Joana? Eu vi o Luís e a Mónica há pouco tempo... – Quem é a Mónica? – É...

2. As idas regulares ao bar, quando a música é má bebe-se uns copos.

3. O José Luís Peixoto no balcão do bar a menos de um metro de mim, um olhar de esguelha para a pessoa que eu sempre imaginei não existir foi suficiente para ouvir todas as palavras entre as páginas 106 e 107 a gritarem dentro da minha cabeça ao mesmo tempo.

4. O Alice. Fechei os olhos e imaginei o palco juke box, no número 46 A da rua da Fé. Algumas personagens já tinham saído de cena, mas os actores principais não me desiludiram.

5. A ida ao Incógnito. Quarta-feira pouco depois da meia noite o estado de espírito era este:

I was happy in the haze of a drunken hour
But heaven knows I'm miserable now

I was looking for a job, and then I found a job
And heaven knows I'm miserable now

terça-feira, abril 04, 2006

Triste

I lie awake
I’ve gone to ground
I’m watching porn
In my hotel dressing gown
Now I dream of you
But I still believe
There’s only enough for one in this
Lonely hotel suite

The journey’s long
And it feels so bad
I’m thinking back to the last day we had.
Old moon fades into the new
Soon I know I’ll be back with you
I’m nearly with you
I’m nearly with you

When I’m weak I draw strength from you
And when you’re lost I know how to change your mood
And when I’m down you breathe life over me
Even though we’re miles apart we are each other’s destiny

On a clear day
I’ll fly home to you
I’m bending time getting back to you
Old moon fades into the new
Soon I know I’ll be back with you
I’m nearly with you
I’m nearly with you

Zero 7